Os dados mais recentes do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) 2024 revelam um retrato preocupante: 29% da população brasileira adulta é analfabeta funcional, o mesmo patamar registrado em 2018. Essa estagnação sinaliza um problema estrutural que transcende o sistema educacional, afetando diretamente o mercado de trabalho, a saúde pública e ampliando desigualdades sociais.
O que é o Inaf? Criado pelo Instituto Paulo Montenegro e pela Ação Educativa, o Inaf é o principal instrumento de medição do grau de alfabetismo funcional no Brasil. Avalia as competências de leitura, escrita e matemática em situações do cotidiano, categorizando a população em cinco níveis.
Análise dos Dados: Quem São os Analfabetos Funcionais em 2024?
Apesar dos esforços de alfabetização formal, uma parcela expressiva da população adulta ainda não domina habilidades básicas de leitura e interpretação. O recorte por faixa etária, gênero e cor evidencia as desigualdades:
Grupo | Analfabetismo Funcional (2024) | Alfabetizados (2024) |
---|---|---|
15-29 anos | 16% | 84% |
50+ anos | 51% | 49% |
Mulheres | 27% | 73% |
Homens | 31% | 69% |
Brancos (avançado) | 41% | – |
Pretos/Pardos (avançado) | 31% | – |
Infográfico: Níveis de Alfabetismo do Inaf
- Rudimentar: Lê palavras isoladas, mas não interpreta textos.
- Elementar: Entende textos curtos e faz contas básicas.
- Consolidado: Domina leitura, escrita e matemática aplicadas no dia a dia.
O dado mais alarmante está na faixa etária acima de 50 anos: mais da metade não possui habilidades funcionais. Já entre os jovens de 15 a 29 anos, o nível ainda é preocupante, com 1 em cada 6 considerados analfabetos funcionais.
O problema tem raízes profundas e multifatoriais. Segundo o especialista em alfabetização João Batista Araújo e Oliveira, a baixa qualidade da educação básica é o principal fator. “Temos uma escola que certifica, mas não ensina.”
A situação se agrava com a falta de políticas públicas efetivas para jovens e adultos, como o desmonte e a descontinuidade de programas como o Brasil Alfabetizado.
Depoimento realista: “Na minha turma de EJA, 60% dos alunos não conseguem ler uma notícia simples.”
— Professora Maria Silva, rede municipal de São Paulo
As conseqüências são tangíveis: pessoas com baixo letramento funcional têm mais dificuldade em conseguir empregos formais, compreender bulas de remédio ou tomar decisões financeiras informadas. A exclusão é silenciosa, mas devastadora.
Para reverter esse cenário, é preciso combinar vontade política, inovação pedagógica e engajamento social.
Para Gestores Públicos:
- Priorizar recursos para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos orçamentos municipais e estaduais.
- Firmar parcerias com ONGs e instituições do terceiro setor, como a Fundação Roberto Marinho, que desenvolve materiais e formação para educadores.
- Apostar em programas de sucesso: O Programa Alfabetização na Idade Certa (PAIC) no Ceará reduziu o analfabetismo em 40% entre 2007 e 2019, com foco em formação de professores, avaliação constante e incentivos para resultados.
Para Educadores:
- Buscar capacitação em metodologias ativas, que tornem a aprendizagem mais significativa. O Instituto Singularidades oferece cursos voltados para esse perfil.
- Incorporar tecnologias educacionais, como a Khan Academy, que disponibiliza conteúdo gratuito e personalizado para alfabetização em diversas disciplinas.
- Realizar diagnósticos frequentes e trabalhar com turmas de forma heterogênea, respeitando os tempos e ritmos de aprendizagem.
O combate ao analfabetismo funcional exige um pacto coletivo entre governos, educadores, famílias e sociedade civil. O conhecimento é o primeiro passo.
Links úteis:
Sugestão de engajamento:
- Professores: compartilhem suas práticas com a hashtag #EducaçãoParaTodos nas redes sociais.
- Gestores: repliquem este artigo nos boletins das secretarias de educação e promovam debates sobre o tema.
Resumo Executivo para Gestores
- 29% dos brasileiros adultos são analfabetos funcionais.
- Maiores índices estão entre os mais velhos, homens e populações negras.
- Causas principais: baixa qualidade da educação básica e falta de políticas públicas.
- Soluções incluem: investimento em EJA, parcerias com ONGs, capacitação docente e uso de tecnologia.
- Exemplo bem-sucedido: Programa PAIC (Ceará).
- Ação imediata: planejar estratégias locais com base nos dados do Inaf e fomentar iniciativas colaborativas.
A alfabetização funcional é um direito e um caminho para um Brasil mais justo e desenvolvido.